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Saiba o que é pobreza menstrual e quais as consequências da falta de acesso a absorventes
Muito embora a menstruação faça parte do dia a dia da grande maioria das mulheres e pessoas com útero em idade reprodutiva, o acesso à chamada higiene menstrual - um direito reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) - não é garantido a todos que precisam. A falta de produtos como absorventes e similares é chamada de pobreza menstrual, um problema que afeta principalmente as populações em situação de vulnerabilidade social em todo mundo.
Dados de um estudo realizado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil apontam que cerca de 4 milhões de jovens mulheres que frequentam a escola não têm acesso a itens básicos de cuidados menstruais. O impacto disso se reflete diretamente na evasão escolar.
Segundo o coletivo Igualdade Menstrual, uma a cada quatro adolescentes brasileiras falta à escola quando está menstruada porque não possui absorventes. São aproximadamente 45 dias letivos perdidos por ano, o que aumenta a evasão escolar e a desigualdade de gênero.
A falta de acesso a absorventes atinge milhares de meninas e mulheres em situação de vulnerabilidade no Brasil. Sem ter como comprar absorventes, elas são obrigadas a utilizar itens improvisados de absorção de fluxo, como papel higiênico, jornal, sacolas, areia e miolo de pão.
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Distribuição de absorventes é lei
No Brasil, a distribuição de absorventes agora é lei. O Congresso Nacional derrubou no dia 10 de março de 2022 o veto presidencial ao projeto de lei que prevê a distribuição gratuita de absorventes para estudantes de baixa renda de escolas públicas, pessoas em situação de rua, em extrema vulnerabilidade social, detentas e jovens em cumprimento de medida socioeducativa. Com isso, atendendo a reivindicações de diversos coletivos de defesa da dignidade menstrual, o projeto se tornou lei.
Em entrevista à Rede Lume de Jornalistas em outubro de 2021, Lua Gomes, vice-presidente estadual da Central Única das Favelas (CUFA) em Londrina, lamenta que ainda seja preciso discutir necessidades primárias do corpo feminino em pleno 2021, e revela impactos da falta de acesso a absorventes na vida de pessoas que menstruam.
“A vida de adolescentes e mulheres ainda é impactada por um tabu, como se fosse uma vergonha, contudo é fisiológico. Eu mesma, na época da escola, enfrentei dificuldades por falta de absorventes, como tantas outras mulheres. Como sair para o trabalho sem a devida proteção? Frequentar a escola, círculos sociais e outros espaços de construção?”, questiona.
Absorvendo o tabu
A pobreza menstrual é o tema do curta-metragem “Absorvendo o Tabu”, ganhador do Oscar em 2019 e disponível na Netflix. O filme conta a história de como foi desenvolvida uma máquina para fazer absorventes biodegradáveis e de baixo custo nos vilarejos indianos, onde o estigma da menstruação ainda persiste.
Campanha arrecada absorventes em Londrina
Os shoppings Catuaí, Boulevard, Aurora e Londrina Norte se uniram para uma campanha de arrecadação de absorventes íntimos. Até o fim de março de 2022, haverá ponto de coleta nos quatro shoppings.
A ação tem como objetivo receber os itens de higiene para depois repassá-los a instituições que cuidam de mulheres em situação de vulnerabilidade social.
“A pobreza menstrual é uma dura realidade e pouco se fala sobre ela. Se pensarmos que uma menina pode não ir à escola quando está menstruada porque não tem condições de comprar seu absorvente, os impactos a longo prazo são profundos. Essa é mais uma das barreiras sociais que as mulheres enfrentam; e penso que juntos podemos combatê-las, explica a superintendente do Catuaí Shopping, Fernanda Pires.
Para a superintendente do Shopping Boulevard, Tânia Hara, a campanha ajuda a sociedade a olhar mais atentamente para um tema tão importante, porém pouco discutido. “Quando comemoramos o Dia da Mulher precisamos olhar principalmente para as nossas vulnerabilidades para que possamos nos ajudar mutuamente. A pobreza menstrual é uma realidade que está evidente e que tem impacto na autoestima, na segurança da mulher, na educação, no trabalho, na vida social. Estamos engajados nessa campanha para contribuir e para ampliar o olhar da sociedade nesta causa que é real e urgente”, afirmou.