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Gambito da Rainha: saiba como xadrez se relaciona com a vida real
Um jogo milenar que mobiliza milhões de pessoas ao redor do mundo ganhou status de ícone pop por meio da série “O Gambito da Rainha”, uma produção da Netflix sobre o jogo de xadrez que já se tornou a mais assistida da plataforma de streaming. A história, baseada em livro de mesmo nome escrito por Walter Tevis com primeira edição em 1983, conta as aventuras de Elizabeth Harmon, uma garota que perde a mãe na década de 1950 e, com um empurrão inicial do zelador do orfanato para onde foi mandada, se torna um prodígio do xadrez ainda muito jovem.
A série, em sete episódios, prende nossa atenção porque tem uma trama bem construída, que extrapola o universo do xadrez ao mostrar os dramas e traumas de “Beth”. Temas atuais como bullying e protagonismo feminismo em um esporte dominado por homens perpassam toda a narrativa a aproximam a história da realidade.
O xadrez também faz parte da história do Sigma! Afinal, o fundador da escola, Jamil Hatti, é um exímio enxadrista e não perde a oportunidade de desafiar os alunos pelos corredores do colégio. Outro admirador do jogo é o professor de Filosofia Jorge Henrique Lopes de Oliveira. Para saber mais sobre o tema, convidamos os dois para debater a influência do xadrez na “vida real” e reforçar porque vale a pena investir neste jogo.
Com a palavra, Jamil Hatti
O fundador do Sigma conta que aprendeu a jogar xadrez no Colégio São Luís, em São Paulo, e até os 20 anos foi um grande estudioso da modalidade. Jamil afirma que o jogo foi fundamental em sua formação, pois dá uma capacidade enorme de abstrair, raciocinar à frente e planejar. “O cérebro é como um músculo que precisa ser exercitado. Não à toa, o cérebro do enxadrista funciona melhor”, garante.
As habilidades promovidas pelo xadrez não se resumem apenas ao raciocínio lógico. No aspecto emocional, a prática incentiva a paciência, a calma, a perseverança e a disciplina. Por tudo isso, Jamil aconselha: “vamos largar o celular, sentar e pensar em frente ao tabuleiro!”
Acompanhe o desafio de xadrez com Jamil no Sigma!
Metáfora da vida real
O professor de Filosofia do Sigma, Jorge Henrique, chama atenção para uma metáfora interessante: em sociedade, também vivemos em um tabuleiro e o xadrez é como uma rede. No jogo, o poder está instituído e a mulher, a Rainha, é a mais empoderada. Assim como o Rei, vai em todas as direções, só que mais rápido e mais longe. O Rei, preso à sua corte, tem os passos lentos de cada casa, tendo como vantagem a proteção do roque que só ele pode fazer – o artifício legal que lhe dá o poder de mexer diversas peças ao mesmo tempo, e se trancar no castelo, em sua Torre. Mas a Rainha é mais temida. É a peça chave a ser conquistada. Seu poder está além e por isso também se torna, nas mãos do Rei, uma peça de troca, se necessário a seu ataque.
Xadrez e política
Jorge Henrique destaca que o xadrez nos ensina, neste jogo político, que nem sempre são as peças mais fortes as que terminam a luta - apesar do poder real permanecer até o fim e o Rei nunca ser morto, pois ou renuncia ou fica em uma encruzilhada que obriga o jogador a abandonar a partida.
Peões e cavalos não são apenas números. Como na vida real, são peças que decidem o final das lutas, quando o anônimo dá o passo final para encurralar o inimigo... São as primeiras a serem sacrificadas. No tabuleiro, na rede, no xadrez, na WEB, as peças recebem seu papel social e se tornam uma engrenagem de uma máquina maior, com passos cronometrados pelas casas pretas e brancas de uma sociedade de locais marcados, de jogadas conhecidas.
Manipulação das massas
O “gambito da Dama”, movimento do xadrez que inspirou a série da Netflix, nada mais é do que um pedaço da história na qual a massa, o peão, manipulado ao lado da Rainha, se sacrifica em nome de uma vitória que nem é sua. E a história vai sendo escrita no trançar de casas e pela lei do tabuleiro. Há ainda a religião, o sagrado que se mistura ao profano na movimentação diagonal dos bispos e a combinação de peças menores – peões e cavalos, bispos e torres – que conferem à partida uma dramaticidade em seu final.
E o vestibular?
Para o professor de filosofia, a preparação de um aluno é como um jogo de xadrez. Exige-se paciência e ao mesmo tempo precisão e rapidez. O jogo é parado e lento e ao mesmo tempo rápido e decisivo, como as contradições da vida. O vestibular é lento, assim como as provas, e exige calma para analisar e pensar. Porém, devem ser feitas dentro de um tempo, como no xadrez. Por isso, na educação, no xadrez e na vida, a estratégia, o uso racional dos recursos, o pensar antes de agir, a previsibilidade e a atenção são lições que vão para além do livro didático. O xadrez é um jogo que precisa de experiência e quanto mais se joga mais se aprende, como na vida. E o professor Jorge Henrique conclui: o xadrez da vida não faz campeões. O xadrez da vida tem seu mérito na própria partida, pois ela é única. Não haverá outra. Só vamos jogar uma vez!